Vem ai a Netflix
Ted Sarandos, director de conteúdos da Netflix afirma: " Quando lançamos os nossos serviços num pais, o tráfego relacionado com pirataria desce, enquanto o da Netflix sobe!"
Reclama, desta forma ter a solução para o maior problema da indústria cinematográfica: a pirataria, ou o descarregamento ilegal de conteúdos televisivos e cinematográficos, que lesa o império de Hollywood anualmente em biliões de dólares.
Ted Sarandos assume que os consumidores são, na sua maioria, honestos, por isso o segredo passa por dar-lhes mais e melhores opções a um preço razoável. Os resultados estão à vista: o último trimestre de 2014 registou um aumento de 4.3 milhões de subscritores, 1.3 mil milhões de euros de receitas e 76 milhões de euros de lucro. A expectativa é que estes números aumentem graças às estreias mais recentes: “Between”, que estreou a 21 de maio, e “Sense8", que começou a 5 de junho.
Durante os quase 20 anos de vida do site, a Netflix passou de um pequeno site com 30 funcionários para uma empresa multinacional com mais de 57 milhões de utilizadores espalhados por 50 países. De acordo com as recentes noticias de expansão internacional, Portugal deverá fazer parte desse grupo já em Outubro. Os consumidores mostram-se recetivos à mudança de paradigma e às técnicas revolucionárias da Netflix que, por sua vez, se focam naquilo que os utilizadores querem.
Tudo porque o avançado algoritmo usado pelos sistema de recomendações mostra e recomenda aos utilizadores aquilo que eles querem ver, antes mesmo de eles o saberem. Esse é também um dos fatores de sucesso das séries produzidas pela empresa — os dados pessoais recolhidos funcionam como uma espécie de consultor de audiências para as produções da empresa.
Sempre que lê a sinopse de um filme, sempre que carrega no botão pause... a Netflix lembra-se disso tudo. O sistema informático, junta todos estes dados e é através da sua análise que adivinha, as preferências dos utilizadores.
Foi através de uma dessas análises que Ted Sarandos e a Netflix tomaram a decisão de adaptar e produzir aquela que é a mais bem sucedida das suas criações, “House of Cards”. O ator Kevin Spacey e o realizador David Fincher queriam produzir a série, mas onde as outras produtoras colocaram entraves, a Netflix disse apenas “sim”.
“[A Netflix] foi a única que disse ‘Nós acreditámos em ti. Analisámos os nossos dados e eles dizem que a nossa audiência gostaria de assistir a esta série. Não precisamos que façam um piloto. Digam só quantos episódios querem fazer”, revelou Kevin Spacey durante um discurso no Festival Internacional de Televisão em Edimburgo, Escócia.
A empresa investiu 92 milhões de euros na produção de duas temporadas do drama político “House of Cards”. Um investimento de alto risco comparativamente aos 55 milhões de euros investidos pela famosa HBO na primeira temporada de “A Guerra dos Tronos”. Dois anos depois da estreia, “vários novos subscritores começam a ver a série todas as semanas”, pode ler-se no site oficial da Netflix.
Kevin Spacey conquistou o Globo de Ouro para melhor ator, um ano depois de Robin Wright ter vencido na categoria feminina, entre muitas outras importantes nomeações. Tornou-se também a primeira série televisiva criada para a web a conquistar nomeações — nove na primeira temporada, 13 na segunda — para as mais importantes categorias dos prestigiados Emmy.
O leque de séries originais Netflix não termina com “House of Cards. Dois meses depois da estreia do drama político, foi lançado o misterioso thriller “Hemlock Grove”, custo investimento para a primeira temporada chegou aos 40 milhões de euros. A série conseguiu duas nomeações para os Emmy e prepara-se para a sua terceira e última temporada, que vai ser lançada ainda este ano.
A comédia dramática “Orange Is The New Black” foi a série seguinte e reafirmou a excelência das produções originais da Netflix. O investimento de 90 milhões de euros rendeu 12 nomeações e três Emmy e a renovação da série para uma terceira temporada.
As aventuras de "Marco Polo" pela Ásia têm um orçamento de 82 milhões de euros por dez episódios, superado apenas pelo enorme orçamento de “A Guerra dos Tronos”.
Outra série de sucesso da Netflix é “Bloodline”, um drama que conta com a participação de Linda Cardellini e Kyle Chandler, chegou à base de dados da Netflix no dia 20 de março. As críticas têm sido entusiastas e tudo indica que o registo da empresa se vai manter em nota positiva. Outra das novidades mais bem sucedidas foi a série “Daredevil”, lançada a 2 de abril. Tornou-se na produção da Netflix mais vista de sempre nos primeiros 10 dias.
O modelo da Netflix agradou aos utilizadores que, em 2007, viram a empresa introduzir mais uma novidade: o streaming através da Internet. É um facto que os consumidores, especialmente os mais novos, começam a preferir o video on demand através da Internet, em vez dos canais televisivos. Um estudo indica que, em apenas um ano, o número de famílias norte-americanas que prescindem de televisão por cabo, para ficarem apenas com uma ligação de banda larga, subiu de 1,1% para 2,8%. Quem ganha com tudo isto são os serviços prestados por empresas como a Netflix.
Numa altura em que os consumidores querem quebrar as tabelas horárias e exigem ser eles próprios a decidir quando e o que querem ver, a Netflix oferece-lhes exatamente aquilo que eles querem. A 1 de fevereiro de 2013, os 13 episódios da primeira temporada de “House of Cards” foram disponibilizados na íntegra. A novidade agitou a concorrência e também os subscritores — calcula-se que cerca de 634 mil pessoas tenham visto os 13 episódios apenas durante o primeiro fim de semana. A tática foi, obviamente, replicada nas restantes séries originais. Agora resta-nos salivar pelo mês de Outubro, em que, salvo algum contratempo, poderemos desfrutar de todo este mundo maravilhoso.